Nos últimos meses, com o real cada vez mais fortalecido, pelo "derretimento" do dólar nos mercados financeiros mundias, alguns nomes do empresariado nacional tem falado em "dessindustrialização" do parque industrial brasileiro. Na verdade, eu acho que isso deve ser corrigido com ajustes na paridade das moedas. Como disse o presidente Lula, nós não podemos pagar pela ineficiência e pelo ajuste fiscal de países como os EUA. No entanto, temos que fazer também a nossa parte. O binônio industrialização /dessindustrialização acontece em qualquer lugar do mundo. Invariavelmente, dependendo da conjuntura, os menos eficientes cedem lugar aos mais eficientes.
Na minha visão, o que o País necessita, de fato, em todos os setores, e no industrial em particular, é de choque de gestão, de eficiência, de competência empresarial, para produzir produtos cada vez mais baratos, com maior conteúdo tecnológico "made in Brazil", de menores custos, de forma a se tornar mais competitivo, independentemente de cenário interno de impostos em cascata e nas alturas e do propalado "risco cambial". Não basta ser eficaz, tem que se ser eficiente.
Então, para reflexão, reproduzo o belo texto do professor Weber Figueiredo, que fala da industrialização do Brasil em sua "A Última Aula". Eu, enquanto engenheiro-tecnologista, cidadão e amante de um Brasil mais próspero, mais rico e iqualitário para nossos filhos, concordo plenamente com ele. Necessitamos quebrar esse paradigma de dependência tecnológica e investir maciçamente em ciência, tecnologia e inovação. Nós podemos mudar esse cenário. Basta querermos.
A ÚLTIMA AULA
Weber Figueiredo fala sobre a reconstrução do Brasil.
O professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Weber Figueiredo, deu uma última aula para seus ex-alunos. Diante de uma platéia de formandos, acompanhados de seus pais, o professor paraninfo da turma discursou sobre o Brasil.
Leia o que disse Weber Figueiredo:
"Ilustríssimos Colegas da Mesa, Senhor Presidente, meus queridos Alunos, Senhoras e Senhores. Para mim é um privilégio ter sido escolhido paraninfo desta turma. Esta é como se fôra a última aula do curso. O último encontro, que já deixa saudades. Um momento festivo, mas também de reflexão.
Se eu fosse escolhido paraninfo de uma turma de direito, talvez eu falasse da importância do advogado que defende a justiça e não apenas o réu. Se eu fosse escolhido paraninfo de uma turma de medicina, talvez eu falasse da importância do médico que coloca o amor ao próximo acima dos seus lucros profissionais. Mas, como sou paraninfo de uma turma de engenheiros, vou falar da importância do engenheiro para o desenvolvimento do Brasil.
Agora vamos falar de outro exemplo que acontece no dia-a-dia no comércio mundial de mercadorias. Em média: 1kg de soja custa US$ 0,10 (dez centavos de dólar), 1kg de automóvel custa US$ 10, isto é, 100 vezes mais, 1kg de aparelho eletrônico custa US$ 100, 1kg de avião custa US$1.000 (10 mil quilos de soja) e 1kg de satélite custa US$ 50.000. Vejam, quanto mais tecnologia agregada tem um produto, maior é o seu preço, mais empregos foram gerados na sua fabricação.
Os países ricos sabem disso muito bem. Eles investem na pesquisa científica e tecnológica. Por exemplo: eles nos vendem uma placa de computador que pesa 100g por US$ 250. Para pagarmos esta plaquinha eletrônica, o Brasil precisa exportar 20 toneladas de minério de ferro. A fabricação de placas de computador criou milhares de bons empregos lá no estrangeiro, enquanto que a extração do minério de ferro, cria pouquíssimos e péssimos empregos aqui no Brasil.
Os países ricos sabem disso muito bem. Eles investem na pesquisa científica e tecnológica. Por exemplo: eles nos vendem uma placa de computador que pesa 100g por US$ 250. Para pagarmos esta plaquinha eletrônica, o Brasil precisa exportar 20 toneladas de minério de ferro. A fabricação de placas de computador criou milhares de bons empregos lá no estrangeiro, enquanto que a extração do minério de ferro, cria pouquíssimos e péssimos empregos aqui no Brasil.
O Japão é pobre em recursos naturais, mas é um país rico. O Brasil é rico em energia e recursos naturais, mas é um país pobre. Os países ricos, são ricos materialmente porque eles produzem riquezas. Riqueza vem de rico. Pobreza vem de pobre. País pobre é aquele que não consegue produzir riquezas para o seu povo. Se conseguisse, não seria pobre, seria país rico.
1º) quando me refiro à palavra riqueza, não estou me referindo a jóias nem a supérfluos. Estou me referindo àqueles bens necessários para que o ser humano viva com um mínimo de dignidade e conforto;
2º) não estou defendendo o consumismo materialista como uma forma de vida, muito pelo contrário; e
3º) acho abominável aqueles que colocam os valores das riquezas materiais acima dos valores da riqueza interior do ser humano. Existem nações que são ricas, mas que agem de forma extremamente pobre e desumana em relação a outros povos.
Creio que agora posso falar do ponto principal. Para que o nosso Brasil torne-se um País rico, com o seu povo vivendo com dignidade, temos que produzir mais riquezas. Para tal, precisamos de conhecimento, ou tecnologia, já que temos abundância de recursos naturais e energia. E quem desenvolve tecnologias são os cientistas e os engenheiros, como estes jovens que estão se formando hoje.
A dependência científica tecnológica acarretou para nós brasileiros a dependência econômica, política e cultural. Não podemos admitir a continuação da situação esdrúxula, onde 70% do PIB brasileiro é controlado por não residentes. Ninguém pode progredir entregando o seu talão de cheques e a chave de sua casa para o vizinho fazer o que bem entender.
O que me revolta, como professor cidadão, é ver que as decisões políticas tomadas por pessoas despreparadas ou corruptas são responsáveis pela queima e destruição de inteligências brasileiras que poderiam, com o conhecimento apropriado, transformar o nosso Brasil num país florescente, próspero e socialmente justo. Acredito que o mundo ideal seja aquele totalmente globalizado, mas uma globalização que inclua a democratização das decisões e a distribuição justa do trabalho e das riquezas. Infelizmente, isto ainda está longe de acontecer, até por limitações físicas da própria natureza. Assim, quem pensa que a solução para os nossos problemas virá lá de fora, está muito enganado.
O dia que um presidente da República, ao invés de ficar passeando como um dândi pelos palácios do primeiro mundo, resolver liderar um autêntico projeto de desenvolvimento nacional, certamente o Brasil vai precisar, em todas as áreas, de pessoas bem preparadas. Só assim seremos capazes de caminhar com autonomia e tomar decisões que beneficiem verdadeiramente a sociedade brasileira. Será a construção de um Brasil realmente moderno, mais justo, inserido de forma soberana na economia mundial e não como um reles fornecedor de recursos naturais e mão-de-obra aviltada.
Muito Obrigado."
(Fonte: Revista Consultor Jurídico, 29 de agosto de 2003)
Além da ineficiência citada, acredito também que sempre existiram interesses escusos que impediram o Brasil de desenvolver produtos industrializados de alto valor agregado. Porém, apesar de sermos quase que totalmente dependentes, damos sorte de morarmos em um país cuja diversidade natural única contribui para o desenvolvimento.
ResponderExcluirApenas discordo do professor quando diz que o mundo ideal é o totalmente globalizado... Mesmo se caminhasse em direção a "democratização das decisões e a distribuição justa do trabalho e das riquezas", sempre esbarraria nos interesses de cada grupo dominante. Defendo uma maior mobilização de cada sociedade dentro de suas nações para a melhor busca da distribuição em questão. Pena que, aparentemente, isso jamais irá ocorrer nessa era.