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segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Já ouviu falar em ciência - cidadã?

O cidadão, além de um ser individual, é um ser social com identidade cultural alicerçada nas relações sociais da comunidade. A sua identidade e a sua mente resultam de uma racionalização progressiva e ativa em contextos socioculturais concretos.

Figura 1
A cultura-cidadã baseia-se em uma grande esperança: contribuir para que o cidadão aprenda a construir a si próprio e à sociedade do futuro, ao construir o saber. Considera muito importante, mas não o suficiente, construir a cidadania em torno da afirmação e consagração dos direitos humanos.

Para o exercício pleno da cidadania é fundamental que o cidadão tenha uma leitura atenta da realidade social, de forma que nele aflore a vontade da participação ativa nessa realidade, através da cooperação, da partilha de recursos e da negociação democrática de objetivos. E como elemento facilitador da realidade social, que impulsiona o pleno exercício da cidadania na sociedade, temos a facilidade da informação, o papel positivo das várias formas de mídia.

De posse dessa percepção mais apurada da realidade, das mazelas e da problemática social, o cidadão começa a perceber, de fato, que as soluções para seus problemas e anseios não passam, necessariamente, pela atuação dos governos constituídos.

O cidadão sente que, por força da ineficiência, da burocracia. Cansado da inércia, lerdeza e intrínseca corrupção enraizada nos governos e na política - que constitui um mundo que somente tangencia, quando interessa, o mundo real, o do cidadão - começa a se ver na condição de real protagonista.

O “chamamento à participação”, que temos que fazer por nós mesmos e agora, nunca ecoou tão forte. O “vamos dar as mãos”, reverbera, e é mais forte, mas não só, quando o emocional, levado ao extremo pela mídia, está envolvido. É dramática, assim como as próprias tragédias, a forma como a sociedade se mobiliza quando ocorrem grandes catástrofes ou fatos que despertam em cada um de nós sentimentos da mais profunda humanidade e solidariedade. É só lembrar fatos recentes, como o tsunami na Ásia em 2004 que ceifou a vida de quase 300.000 pessoas. O drama do Haiti em 2010, aonde um terremoto de magnitude 7,3 dizimou Porto Príncipe e matou mais de 316.000 pessoas. O drama, também em 2010, dos 33 mineiros que ficaram 69 dias presos a mais de 700 metros em uma mina de cobre no Chile, e que despertou a solidariedade mundial. Sem falar da profunda solidariedade do povo brasileiro, do que se vê por aqui, em tantos e tantos momentos tristes, trágicos, aonde o cidadão colabora com milhares e milhares de doações ou se colocando como voluntário para ajudar a desabrigados, como ocorreu na recente tragédia da região serrana do Estado do Rio de Janeiro.

Figura 2
O “vamos dar as mãos”, construir de forma coletiva as soluções, passa pela incorporação do conceito de “responsabilidade-cidadã” nas grandes questões que nos aflige. E um dos aspectos mais interessantes nesse movimento do “construir coletivamente”, que tem inúmeras e complexas facetas, é a chamada ciência-cidadã.

Esse termo é empregado para projetos relacionados aos mais diversos ramos da ciência, como a medicina, a astronomia, a cosmologia, a computação, a vida animal e em tantas outras áreas, no qual voluntários individuais ou redes de voluntários, a maioria dos quais sem formação científica específica, mas com a vontade intrínseca de participar, de ser protagonista de algo que julga relevante, executa ou gerencia tarefas relacionadas com uma investigação científica promovida por determinada instituição, em geral um grupo de pesquisa de uma universidade.

A força motriz que permite essa interação envolve, num primeiro momento, a necessidade de se realizar determinada tarefa associada a uma investigação científica que, pelo volume de trabalho e de dados a analisar, se torna quase impossível de ser concretizada unicamente pela equipe de pesquisadores de determinado grupo de pesquisa, em um tempo razoável. Assim, se milhares de pessoas se agregam voluntariamente a esse esforço de análise, a chance de obtenção de resultados a prazos mais curtos se torna uma realidade.

Para viabilizar essa interação e estabelecer o link entre o “problema e dados a analisar x cidadão que aderiu à rede para análise”, o “pulo do gato” foi a idéia da criação de plataformas web, de forma geral bastante intuitivas, aonde os dados a analisar são alimentados e podem ser analisados mesmo por um leigo no assunto. Portanto, como outro elemento fundamental nessa interação, tem-se a capacidade computacional ociosa de milhares e milhares de computadores pessoais e o tempo dedicado pelos voluntários a essa causa, que se dispõem a atuar em rede, de forma desinteressada. Sendo o único interesse a participação em algo de relevância sob a sua ótica.

A ciência-cidadã embute, em si, uma faceta mais do que transformadora, pois ao compartilhar a pesquisa com o cidadão, acaba aproximando a sociedade da ciência. Fazendo com que o trabalho do pesquisador, do cientista, seja mais valorado. Por outro lado, a ciência-cidadã, rompe, de fato, com o conceito de que ciência é algo intangível, não compreensível, complicado, somente ao alcance de uns poucos iluminados.

O esforço das equipes de pesquisadores em promover a ciência-cidadã junto a seus projetos é plenamente recompensado. No entanto, quando se fala de resultados, o que se vê, a princípio, é que o cidadão voluntário só tem seu trabalho de fato valorado, em alguns casos, através do reconhecimento público de alguma descoberta, em outros, pela citação do seu nome em um trabalho científico. Me parece em aberto, no entanto, como se retribui ao cidadão quando a sua contribuição for chave para a geração de uma descoberta inovadora, que venha a ter valor econômico, por exemplo, através de uma patente.

O esforço pioneiro na ciência – cidadã nos remete ao projeto SETI@Home. Criado em maio de1999, ele usa computadores de voluntários para processar dados de radiotelescópios em busca de sinais enviados por civilizações alienígenas. A mobilização mundial em torno desse projeto é enorme e hoje ele conta com uma rede de mais de 5.436.301 voluntários, de mais de 226 países, e seus computadores, para análise do gigantesco quantitativo de dados recebidos dos radiotelescópios. Nada ainda foi encontrado. Mas a sociedade de interessados continua mobilizada e à espera que nos próximos anos finalmente se possa comprovar que não estamos sós no universo.

Figura 3
Ainda no mundo da cosmologia, outro exemplo da ciência – cidadã passa pela plataforma web da Zooniverse, que abriga projetos de investigação, tais como:

Caçadores de Planetas: com a ajuda do cidadão, a equipe de cientistas procura planetas pequenos e rochosos, como a terra e outros, em torno de estrelas, a partir da análise sistemática dos dados coletados pelo telescópio Kepler.

Projeto Via Láctea : Visa classificar e medir nossa galáxia a partir da análise dos dados infravermelhos do Telescópio Espacial Spitzer, de forma a se compreender como as estrelas se formam e como a nossa galáxia muda e evolui com o tempo.

Entendendo o Clima: O projeto visa ajudar os cientistas a recuperar as observações meteorológicas em todo o mundo feita por navios da Royal Navy na época da Primeira Guerra Mundial. Essas transcrições irão contribuir para as projeções do modelos climáticos e melhorar a base de dados de condições meteorológicas extremas.

Zoo galático - Hubble: O telescópio espacial Hubble, ao longo de sua histórica jornada de fotografar a beleza do universo, fez centenas de milhares de fotos de galáxias. Para entender como essas galáxias são formadas, é necessário classificá-las segundo a sua forma. Esse é o contexto do projeto, aonde se pede a contribuição de voluntários para a tarefa. As adesões ao projeto já passaram de 250.000 pessoas.

Zoológico Lunar: Os pesquisadores, com a ajuda de voluntários, esperam estudar a superfície lunar em detalhes sem precedentes. Graças à ajuda da comunidade já foram classificadas visualmente 1.741.261 imagens coletadas pela Lunar Reconnaissance Orbiter (LRO).

Alerta de Tempestade Solar: O projeto tem por objetivo eatudar as explosões solares, monitornado-as através do espaço para a Terra. Os resultados permitem proporcionar aos astronautas um alerta no caso de radiações solares perigosas estarem a caminho da Terra.

Zoo galáctico – Super Novas: O projeto investiga a ocorrências das super novas, que são explosões de estrelas gigantescas, a partir dos dados de pesquisa automática na Califórnia, no mundialmente famoso Observatório Palomar.

Zoo galáctico – Fusões: O projeto visa estudar através de simulações fusões de galáxias, de forma interativa afim de melhor se ajustar os modelos, a partir de dados reais que servem como elemento de comparação.

Figura 4
Outros campos aonde a ciência – cidadã tem marcado presença pode ser exemplificado pela plataforma on line de interação entre a ciência e a sociedade chamada Ibercivis, que é uma plataforma de computação voluntária que permite a participação dos cidadãos na investigação científica de maneira direta, em tempo real, e torna os participantes membros ativos na produção do conhecimento científico. O computador transforma-se numa janela aberta para a ciência, criando um canal para o diálogo direto entre os investigadores e a sociedade. As instituições que neste momento lideram os projetos da Ibercivis são Espanha, Portugal e México. Alguns dos projetos da Ibercivis são mostrados a seguir:

Amiloide: procura de fármacos contra doenças amiloides neurodegenerativas : O projeto visa a procura computacional, entre bibliotecas, de milhões de compostos, de potenciais fármacos capazes de interferir com a formação de agregados e fibras amilóides em doenças neurodegenerativas.

Fusão: uma estrela em sua tela : A fusão nuclear por confinamento magnético pode ser uma fonte de energia no futuro, de forma a resolver os problemas de energia da sociedade, tais como o esgotamento das reservas de combustíveis fósseis. Nesse projeto se simula comportamentos dos plasmas que serão produzidos no futuro reator ITER - International Thermonuclear Experimental Reactor (Cadarache, França).

Docking: procurando remédios contra o câncer : Docking é o método atual de procura sistemática de novas substâncias com efeitos terapêuticos, baseado em simulação por computador. O objetivo do projeto é a descoberta de novas substâncias para o tratamento de doenças com grande incidência na população, como, por exemplo, o câncer.

Materiais: simulação de sistemas magnéticos : O projeto trata das simulações em computador do efeito de impurezas (átomos não-magnéticos) em materiais magnéticos, e as modificações causadas pelas impurezas nas propriedades de transição do estado magnético para o estado não-magnético. O conhecimento das propriedades destas transições é de suma importância tecnológica.

Neurosim: uma imersão na estrutura molecular da memória : O projeto trata da análise das propriedades estruturais de aminoácidos e pequenos peptídeos, que atuam no cérebro e no sistema nervoso.

Nanoluz: luz em nano escala : Conhecer o comportamento da luz em escala nanométrica é um desafio científico com implicações importantes na construção de novos materiais, desenvolvimento de novos sistemas de computação e de comunicação, ou melhoramento de painéis solares. O projeto investiga o comportamento da luz em nano partículas metálicas.

Adsorção: fluidos moleculares confinados : Nesse projeto estuda-se as propriedades de adsorção das chamadas argilas PILCS (argilas pilarizadas) que, como outros materiais porosos, têm uma grande importância industrial em catalizadores, materiais para armazenar gases e materiais utilizados em processos de separação de substâncias.

Sanidade: melhoramento de diagnósticos : As radiações ionizantes são utilizadas nos hospitais modernos nas mais diversas aplicações médicas que vão desde a realização de exames de diagnóstico complementares (tais como a Radiologia, a Medicina Nuclear, os exames laboratoriais, etc.) até ao tratamento do câncer (através de Radioterapia, Braquiterapia, etc.). Nesse projeto se utilizam técnicas numéricas de simulações de Monte Carlo para melhorar os conhecimentos, as aplicações e a eficiência da aplicação segura de radiações em medicina.

Criticalidade: transporte elétrico em sistemas desordenados com propriedades fractais : O estudo das propriedades de sistemas desordenados tem sido um campo de ativa investigação nos últimos cinqüenta anos. Um dos aspectos mais fascinante destes sistemas, em mais de duas dimensões, é o aparecimento da transição de metal-isolador devido à alteração da amplitude da desordem. Neste projeto se estuda os efeitos da fractalidade de sistemas na transição metal-isolador ao serem utilizados no transporte de elétrons.


Figura 5
Além das redes citadas, há inúmeras outras. Uma das mais importantes é a BOINC (Berkeley Open Infrastructure for Network Computing). Essa rede, a partir de julho de 2007, já envolveu mais de 1.000.000 pessoas e 2.000.000 computadores em 234 países. Alguns dos projetos associados à BOINC são:

SETI@home: O projeto é um experimento científico que utiliza computadores de voluntários conectados à internet para pesquisar a possível presença de vida extra-terrestre. Você pode participar "baixando" e rodando um aplicativo web da BOINC e analisar dados recebidos de radio telescópios.

Rosetta@Home : Determina as formas tridimensionais de proteínas em pesquisas que podem levar a cura para algumas principais doenças humanas. Ao aderir ao Rosetta@home o voluntário estará ajudando a acelerar e ampliar as pesquisas e na concepção de novas proteínas para combater doenças como a AIDS, a malária, o câncer e o mal de Alzheimer.

Proteins@home : projeto de modelamento de proteínas.

Tampaku : Estuda a estrutura da proteína e a função de seqüências genéticas, usando o a "dinâmica browniana" (BD). Este método permite simular de forma mais eficiente a estrutura de proteínas do que os métodos convencionais.

Predictor@Home : Estuda a estrutura das proteínas a partir de uma seqüência de aminoácidos e tenta-se prever o seu funcionamento. Prever a estrutura de uma proteína desconhecida é um problema crítico e permite o projeto da drogas para o tratamento de doenças novas e existentes.

Docking@home : O projeto visa um maior conhecimento dos detalhes das interações atômicas da proteína-ligante e, ao fazê-lo, buscar insights sobre a descoberta de novos medicamentos.

MalariaControl.Net : Os modelos de simulação da dinâmica de transmissão e os efeitos na saúde, da malária, são uma importante ferramenta para o controle da doença. Eles podem ser usados para determinar estratégias ótimas para a entrega de mosquiteiros, quimioterapia ou novas vacinas que estão atualmente em desenvolvimento e testes. Essa forma de modelagem depende intensivamente de análise computacional, exigindo simulações de grandes populações humanas com um conjunto diversificado de parâmetros relacionados com factores biológicos e sociais que influenciam a distribuição da doença.

Outro campo de interesse na ciência – cidadã, e no qual ela hoje desempenha um papel crítico, é na coleta de dados de longo prazo sobre a vida silvestre e habitats vulneráveis. Por exemplo, a North American Butterfly Association, uma organização conservacionista sem fins lucrativos, com 3.500 membros, mantém uma contagem anual, no dia da Independência dos Estados Unidos – 4 de julho, num esforço continental aonde voluntários identificam e conferem as borboletas que vivem próximas às suas casas. O banco de dados resultante proporciona informações importantes sobre a distribuição e abundância das borboletas. Entre outras constatações, nos últimos sete anos de observação, os pesquisadores puderam mapear as principais áreas de concentração do verão da "monarca", uma borboleta migratória comum que preocupa os observadores, pois passa o inverno em apenas algumas florestas restritas e em declínio no interior do México.

Figura 6
Como não poderia deixar de ser, também na interação com a sociedade, o setor privado começa a despertar para as vantagens da ciência - cidadã. Um interessante caso é o da Lego – fabricante de brinquedos de montar a partir de blocos elementares – que descobriu em uma de suas linhas de produtos essas vantagens, com enorme sucesso de vendas, de novos produtos concebidos diretamente pelo usuário, via um aplicativo de design baixado diretamente do web site da empresa. O resultado do trabalho colaborativo se traduz em um novo produto que pode ser adquirido pelo usuário final e, a seguir, compartilhado com todos os outros usuários. A engenhosidade dessa “solução de compartilhamento de projetos de novos produtos” é fascinante, pois salva milhares de horas de trabalho – e custo – da equipe própria de desenvolvedores da empresa voltada para a concepção de novos produtos.

A relação interativa entre as empresas e o cidadão-usuário tende a aumentar. Quando as empresas perceberem, como a Lego, as vantagens dessa “ferramenta”, aonde o foco maior é a real percepção da importância dos desejos do cidadão-consumidor, certamente, novos negócios serão impulsionados, especialmente no contexto atual de acirrada competição. Imagine, por exemplo, o quanto ganharia uma montadora de automóveis se, ao invés de gastar milhões de dólares no design de um novo carro, com o risco, que sempre existe, de não agradar ao consumidor e perder dinheiro e prestígio, convocá-lo via conceito da “tecnologia–cidadã” para a concepção e até detalhamento do automóvel? É verdade que isso pode parecer uma proposta por demais ousada. Certamente vai requerer investimentos no desenvolvimento de uma plataforma web que permita essa interação com o “voluntário-usuário”, mas isso hoje é feito pela Lego na sua linha “design by me”. Os benefícios corporativos para essa ousadia podem ser enormes e até abalar toda a estratégia de concepção de produtos tradicionalmente empregada.

Como vimos neste breve texto, num mundo profundamente transformado pela ciência e pela tecnologia, a cidadania, o mercado, o estilo de vida a que nos habituamos, bem como o sistema de valores e de crenças,  que devemos e podemos construir coletivamente, impõe uma análise crítica à nova matriz social e tecnológica da ciência. A ciência–cidadã e todas as demais manifestações da cidadania vieram para ficar.

Referências

Figura 1 - http://jairclopes.blogspot.com/2010/09/sobre-sociedade.html
Figura 2 - http://www.pram.mpf.gov.br
Figura 3 –http://www.zooniverse.org/home
Figura 4 – http://www.ibercivis.es/
Figura 5 – http://boinc.berkeley.edu/
Figura 6 - http://www.lego.com/en-us/Default.aspx

Estupro Corretivo na África do Sul

Como julgamos relevante, reproduzimos texto divulgado pela ActionAid a respeito de estupros que ocorreriam, segundo o texto, sistematicamente contra as mulheres, na África do Sul.



Figura 1
O caso de Millicent Gaika, sul-africana que suportou cinco horas de estupro por ser lésbica, trouxe novamente à tona a situação de opressão da mulher na África do Sul, capital mundial do estupro.

O país, que garante em constituição a igualdade de todos os cidadãos, tem suas mulheres vivendo sob permanente estado de insegurança.

Por ano, são 500 mil casos de estupro registrados. Estima-se que quase metade da população feminina vá ser vítima de estupro em algum momento de sua vida. 


Leia o relatório completo com depoimentos das sobreviventes
Assine a petição da Avaaz pelo fim do estupro corretivo

Aceitação social da violência

Embora a impunidade para quem comete crimes contra a mulher na África do Sul seja regra, o problema se agrava quando esse crimes são motivados pelo preconceito.

Para a maioria das lésbicas sul-africanas, é preferível suportar o sofrimento a denunciar esse tipo de agressão: na África do Sul, o estupro “corretivo” tem quase plena aceitação social.

Uma pesquisa realizada por uma organização local revelou, por exemplo, que 20% dos homens acreditam que as vítimas de estupro gostaram da experiência. E mais: que elas fizeram por merecê-la.

Omissão do Estado

Além disso, as mulheres que têm coragem de denunciar esses crimes se deparam com um sistema judiciário falho, que acaba protegendo os agressores. Embora a constituição da África do Sul proíba a discriminação em função da opção sexual, o estupro “corretivo” não é julgado como crime motivado pelo preconceito.

Em 2009, quando a ActionAid publicou o relatório Crimes motivados pelo preconceito: O aumento de ocorrências de estupro “corretivo” na África do Sul, só um em cada cinco casos de estupro “corretivo” era julgado. Desses, pouco mais de 4% resultava em condenação.

Onda de violência crescente

Diante da recusa do governo sul-africano em priorizar a violência contra a mulher como questão de segurança pública, a onda de crimes motivados pelo preconceito só aumenta. Em 2009, organizações LGBT locais afirmavam tratar de cerca de 10 casos por semana.

Ainda mais alarmante é a transmissão do ódio à nova geração de homens sul-africanos. Cresce a ocorrência de estupros cometidos em escolas por garotos que acreditam poder “curar” suas colegas do lesbianismo.


Referência

Já ouviu falar em ciência - cidadã?

O cidadão, além de um ser individual, é um ser social com identidade cultural alicerçada nas relações sociais da comunidade. A sua identidade e a sua mente resultam de uma racionalização progressiva e ativa em contextos socioculturais concretos.

Figura 1
A cultura-cidadã baseia-se em uma grande esperança: contribuir para que o cidadão aprenda a construir a si próprio e à sociedade do futuro, ao construir o saber. Considera muito importante, mas não o suficiente, construir a cidadania em torno da afirmação e consagração dos direitos humanos.

Para o exercício pleno da cidadania é fundamental que o cidadão tenha uma leitura atenta da realidade social, de forma que nele aflore a vontade da participação ativa nessa realidade, através da cooperação, da partilha de recursos e da negociação democrática de objetivos. E como elemento facilitador da realidade social, que impulsiona o pleno exercício da cidadania na sociedade, temos a facilidade da informação, o papel positivo das várias formas de mídia.

De posse dessa percepção mais apurada da realidade, das mazelas e da problemática social, o cidadão começa a perceber, de fato, que as soluções para seus problemas e anseios não passam, necessariamente, pela atuação dos governos constituídos.

O cidadão sente que, por força da ineficiência, da burocracia. Cansado da inércia, lerdeza e intrínseca corrupção enraizada nos governos e na política - que constitui um mundo que somente tangencia, quando interessa, o mundo real, o do cidadão - começa a se ver na condição de real protagonista.

O “chamamento à participação”, que temos que fazer por nós mesmos e agora, nunca ecoou tão forte. O “vamos dar as mãos”, reverbera, e é mais forte, mas não só, quando o emocional, levado ao extremo pela mídia, está envolvido. É dramática, assim como as próprias tragédias, a forma como a sociedade se mobiliza quando ocorrem grandes catástrofes ou fatos que despertam em cada um de nós sentimentos da mais profunda humanidade e solidariedade. É só lembrar fatos recentes, como o tsunami na Ásia em 2004 que ceifou a vida de quase 300.000 pessoas. O drama do Haiti em 2010, aonde um terremoto de magnitude 7,3 dizimou Porto Príncipe e matou mais de 316.000 pessoas. O drama, também em 2010, dos 33 mineiros que ficaram 69 dias presos a mais de 700 metros em uma mina de cobre no Chile, e que despertou a solidariedade mundial. Sem falar da profunda solidariedade do povo brasileiro, do que se vê por aqui, em tantos e tantos momentos tristes, trágicos, aonde o cidadão colabora com milhares e milhares de doações ou se colocando como voluntário para ajudar a desabrigados, como ocorreu na recente tragédia da região serrana do Estado do Rio de Janeiro.

Figura 2
O “vamos dar as mãos”, construir de forma coletiva as soluções, passa pela incorporação do conceito de “responsabilidade-cidadã” nas grandes questões que nos aflige. E um dos aspectos mais interessantes nesse movimento do “construir coletivamente”, que tem inúmeras e complexas facetas, é a chamada ciência-cidadã.

Esse termo é empregado para projetos relacionados aos mais diversos ramos da ciência, como a medicina, a astronomia, a cosmologia, a computação, a vida animal e em tantas outras áreas, no qual voluntários individuais ou redes de voluntários, a maioria dos quais sem formação científica específica, mas com a vontade intrínseca de participar, de ser protagonista de algo que julga relevante, executa ou gerencia tarefas relacionadas com uma investigação científica promovida por determinada instituição, em geral um grupo de pesquisa de uma universidade.

A força motriz que permite essa interação envolve, num primeiro momento, a necessidade de se realizar determinada tarefa associada a uma investigação científica que, pelo volume de trabalho e de dados a analisar, se torna quase impossível de ser concretizada unicamente pela equipe de pesquisadores de determinado grupo de pesquisa, em um tempo razoável. Assim, se milhares de pessoas se agregam voluntariamente a esse esforço de análise, a chance de obtenção de resultados a prazos mais curtos se torna uma realidade.

Para viabilizar essa interação e estabelecer o link entre o “problema e dados a analisar x cidadão que aderiu à rede para análise”, o “pulo do gato” foi a idéia da criação de plataformas web, de forma geral bastante intuitivas, aonde os dados a analisar são alimentados e podem ser analisados mesmo por um leigo no assunto. Portanto, como outro elemento fundamental nessa interação, tem-se a capacidade computacional ociosa de milhares e milhares de computadores pessoais e o tempo dedicado pelos voluntários a essa causa, que se dispõem a atuar em rede, de forma desinteressada. Sendo o único interesse a participação em algo de relevância sob a sua ótica.

A ciência-cidadã embute, em si, uma faceta mais do que transformadora, pois ao compartilhar a pesquisa com o cidadão, acaba aproximando a sociedade da ciência. Fazendo com que o trabalho do pesquisador, do cientista, seja mais valorado. Por outro lado, a ciência-cidadã, rompe, de fato, com o conceito de que ciência é algo intangível, não compreensível, complicado, somente ao alcance de uns poucos iluminados.

O esforço das equipes de pesquisadores em promover a ciência-cidadã junto a seus projetos é plenamente recompensado. No entanto, quando se fala de resultados, o que se vê, a princípio, é que o cidadão voluntário só tem seu trabalho de fato valorado, em alguns casos, através do reconhecimento público de alguma descoberta, em outros, pela citação do seu nome em um trabalho científico. Me parece em aberto, no entanto, como se retribui ao cidadão quando a sua contribuição for chave para a geração de uma descoberta inovadora, que venha a ter valor econômico, por exemplo, através de uma patente.

O esforço pioneiro na ciência – cidadã nos remete ao projeto SETI@Home. Criado em maio de1999, ele usa computadores de voluntários para processar dados de radiotelescópios em busca de sinais enviados por civilizações alienígenas. A mobilização mundial em torno desse projeto é enorme e hoje ele conta com uma rede de mais de 5.436.301 voluntários, de mais de 226 países, e seus computadores, para análise do gigantesco quantitativo de dados recebidos dos radiotelescópios. Nada ainda foi encontrado. Mas a sociedade de interessados continua mobilizada e à espera que nos próximos anos finalmente se possa comprovar que não estamos sós no universo.

Figura 3
Ainda no mundo da cosmologia, outro exemplo da ciência – cidadã passa pela plataforma web da Zooniverse, que abriga projetos de investigação, tais como:

Caçadores de Planetas: com a ajuda do cidadão, a equipe de cientistas procura planetas pequenos e rochosos, como a terra e outros, em torno de estrelas, a partir da análise sistemática dos dados coletados pelo telescópio Kepler.

Projeto Via Láctea : Visa classificar e medir nossa galáxia a partir da análise dos dados infravermelhos do Telescópio Espacial Spitzer, de forma a se compreender como as estrelas se formam e como a nossa galáxia muda e evolui com o tempo.

Entendendo o Clima: O projeto visa ajudar os cientistas a recuperar as observações meteorológicas em todo o mundo feita por navios da Royal Navy na época da Primeira Guerra Mundial. Essas transcrições irão contribuir para as projeções do modelos climáticos e melhorar a base de dados de condições meteorológicas extremas.

Zoo galático - Hubble: O telescópio espacial Hubble, ao longo de sua histórica jornada de fotografar a beleza do universo, fez centenas de milhares de fotos de galáxias. Para entender como essas galáxias são formadas, é necessário classificá-las segundo a sua forma. Esse é o contexto do projeto, aonde se pede a contribuição de voluntários para a tarefa. As adesões ao projeto já passaram de 250.000 pessoas.

Zoológico Lunar: Os pesquisadores, com a ajuda de voluntários, esperam estudar a superfície lunar em detalhes sem precedentes. Graças à ajuda da comunidade já foram classificadas visualmente 1.741.261 imagens coletadas pela Lunar Reconnaissance Orbiter (LRO).

Alerta de Tempestade Solar: O projeto tem por objetivo eatudar as explosões solares, monitornado-as através do espaço para a Terra. Os resultados permitem proporcionar aos astronautas um alerta no caso de radiações solares perigosas estarem a caminho da Terra.

Zoo galáctico – Super Novas: O projeto investiga a ocorrências das super novas, que são explosões de estrelas gigantescas, a partir dos dados de pesquisa automática na Califórnia, no mundialmente famoso Observatório Palomar.

Zoo galáctico – Fusões: O projeto visa estudar através de simulações fusões de galáxias, de forma interativa afim de melhor se ajustar os modelos, a partir de dados reais que servem como elemento de comparação.

Figura 4
Outros campos aonde a ciência – cidadã tem marcado presença pode ser exemplificado pela plataforma on line de interação entre a ciência e a sociedade chamada Ibercivis, que é uma plataforma de computação voluntária que permite a participação dos cidadãos na investigação científica de maneira direta, em tempo real, e torna os participantes membros ativos na produção do conhecimento científico. O computador transforma-se numa janela aberta para a ciência, criando um canal para o diálogo direto entre os investigadores e a sociedade. As instituições que neste momento lideram os projetos da Ibercivis são Espanha, Portugal e México. Alguns dos projetos da Ibercivis são mostrados a seguir:

Amiloide: procura de fármacos contra doenças amiloides neurodegenerativas : O projeto visa a procura computacional, entre bibliotecas, de milhões de compostos, de potenciais fármacos capazes de interferir com a formação de agregados e fibras amilóides em doenças neurodegenerativas.

Fusão: uma estrela em sua tela : A fusão nuclear por confinamento magnético pode ser uma fonte de energia no futuro, de forma a resolver os problemas de energia da sociedade, tais como o esgotamento das reservas de combustíveis fósseis. Nesse projeto se simula comportamentos dos plasmas que serão produzidos no futuro reator ITER - International Thermonuclear Experimental Reactor (Cadarache, França).

Docking: procurando remédios contra o câncer : Docking é o método atual de procura sistemática de novas substâncias com efeitos terapêuticos, baseado em simulação por computador. O objetivo do projeto é a descoberta de novas substâncias para o tratamento de doenças com grande incidência na população, como, por exemplo, o câncer.

Materiais: simulação de sistemas magnéticos : O projeto trata das simulações em computador do efeito de impurezas (átomos não-magnéticos) em materiais magnéticos, e as modificações causadas pelas impurezas nas propriedades de transição do estado magnético para o estado não-magnético. O conhecimento das propriedades destas transições é de suma importância tecnológica.

Neurosim: uma imersão na estrutura molecular da memória : O projeto trata da análise das propriedades estruturais de aminoácidos e pequenos peptídeos, que atuam no cérebro e no sistema nervoso.

Nanoluz: luz em nano escala : Conhecer o comportamento da luz em escala nanométrica é um desafio científico com implicações importantes na construção de novos materiais, desenvolvimento de novos sistemas de computação e de comunicação, ou melhoramento de painéis solares. O projeto investiga o comportamento da luz em nano partículas metálicas.

Adsorção: fluidos moleculares confinados : Nesse projeto estuda-se as propriedades de adsorção das chamadas argilas PILCS (argilas pilarizadas) que, como outros materiais porosos, têm uma grande importância industrial em catalizadores, materiais para armazenar gases e materiais utilizados em processos de separação de substâncias.

Sanidade: melhoramento de diagnósticos : As radiações ionizantes são utilizadas nos hospitais modernos nas mais diversas aplicações médicas que vão desde a realização de exames de diagnóstico complementares (tais como a Radiologia, a Medicina Nuclear, os exames laboratoriais, etc.) até ao tratamento do câncer (através de Radioterapia, Braquiterapia, etc.). Nesse projeto se utilizam técnicas numéricas de simulações de Monte Carlo para melhorar os conhecimentos, as aplicações e a eficiência da aplicação segura de radiações em medicina.

Criticalidade: transporte elétrico em sistemas desordenados com propriedades fractais : O estudo das propriedades de sistemas desordenados tem sido um campo de ativa investigação nos últimos cinqüenta anos. Um dos aspectos mais fascinante destes sistemas, em mais de duas dimensões, é o aparecimento da transição de metal-isolador devido à alteração da amplitude da desordem. Neste projeto se estuda os efeitos da fractalidade de sistemas na transição metal-isolador ao serem utilizados no transporte de elétrons.


Figura 5
Além das redes citadas, há inúmeras outras. Uma das mais importantes é a BOINC (Berkeley Open Infrastructure for Network Computing). Essa rede, a partir de julho de 2007, já envolveu mais de 1.000.000 pessoas e 2.000.000 computadores em 234 países. Alguns dos projetos associados à BOINC são:

SETI@home: O projeto é um experimento científico que utiliza computadores de voluntários conectados à internet para pesquisar a possível presença de vida extra-terrestre. Você pode participar "baixando" e rodando um aplicativo web da BOINC e analisar dados recebidos de radio telescópios.

Rosetta@Home : Determina as formas tridimensionais de proteínas em pesquisas que podem levar a cura para algumas principais doenças humanas. Ao aderir ao Rosetta@home o voluntário estará ajudando a acelerar e ampliar as pesquisas e na concepção de novas proteínas para combater doenças como a AIDS, a malária, o câncer e o mal de Alzheimer.

Proteins@home : projeto de modelamento de proteínas.

Tampaku : Estuda a estrutura da proteína e a função de seqüências genéticas, usando o a "dinâmica browniana" (BD). Este método permite simular de forma mais eficiente a estrutura de proteínas do que os métodos convencionais.

Predictor@Home : Estuda a estrutura das proteínas a partir de uma seqüência de aminoácidos e tenta-se prever o seu funcionamento. Prever a estrutura de uma proteína desconhecida é um problema crítico e permite o projeto da drogas para o tratamento de doenças novas e existentes.

Docking@home : O projeto visa um maior conhecimento dos detalhes das interações atômicas da proteína-ligante e, ao fazê-lo, buscar insights sobre a descoberta de novos medicamentos.

MalariaControl.Net : Os modelos de simulação da dinâmica de transmissão e os efeitos na saúde, da malária, são uma importante ferramenta para o controle da doença. Eles podem ser usados para determinar estratégias ótimas para a entrega de mosquiteiros, quimioterapia ou novas vacinas que estão atualmente em desenvolvimento e testes. Essa forma de modelagem depende intensivamente de análise computacional, exigindo simulações de grandes populações humanas com um conjunto diversificado de parâmetros relacionados com factores biológicos e sociais que influenciam a distribuição da doença.

Outro campo de interesse na ciência – cidadã, e no qual ela hoje desempenha um papel crítico, é na coleta de dados de longo prazo sobre a vida silvestre e habitats vulneráveis. Por exemplo, a North American Butterfly Association, uma organização conservacionista sem fins lucrativos, com 3.500 membros, mantém uma contagem anual, no dia da Independência dos Estados Unidos – 4 de julho, num esforço continental aonde voluntários identificam e conferem as borboletas que vivem próximas às suas casas. O banco de dados resultante proporciona informações importantes sobre a distribuição e abundância das borboletas. Entre outras constatações, nos últimos sete anos de observação, os pesquisadores puderam mapear as principais áreas de concentração do verão da "monarca", uma borboleta migratória comum que preocupa os observadores, pois passa o inverno em apenas algumas florestas restritas e em declínio no interior do México.

Figura 6
Como não poderia deixar de ser, também na interação com a sociedade, o setor privado começa a despertar para as vantagens da ciência - cidadã. Um interessante caso é o da Lego – fabricante de brinquedos de montar a partir de blocos elementares – que descobriu em uma de suas linhas de produtos essas vantagens, com enorme sucesso de vendas, de novos produtos concebidos diretamente pelo usuário, via um aplicativo de design baixado diretamente do web site da empresa. O resultado do trabalho colaborativo se traduz em um novo produto que pode ser adquirido pelo usuário final e, a seguir, compartilhado com todos os outros usuários. A engenhosidade dessa “solução de compartilhamento de projetos de novos produtos” é fascinante, pois salva milhares de horas de trabalho – e custo – da equipe própria de desenvolvedores da empresa voltada para a concepção de novos produtos.

A relação interativa entre as empresas e o cidadão-usuário tende a aumentar. Quando as empresas perceberem, como a Lego, as vantagens dessa “ferramenta”, aonde o foco maior é a real percepção da importância dos desejos do cidadão-consumidor, certamente, novos negócios serão impulsionados, especialmente no contexto atual de acirrada competição. Imagine, por exemplo, o quanto ganharia uma montadora de automóveis se, ao invés de gastar milhões de dólares no design de um novo carro, com o risco, que sempre existe, de não agradar ao consumidor e perder dinheiro e prestígio, convocá-lo via conceito da “tecnologia–cidadã” para a concepção e até detalhamento do automóvel? É verdade que isso pode parecer uma proposta por demais ousada. Certamente vai requerer investimentos no desenvolvimento de uma plataforma web que permita essa interação com o “voluntário-usuário”, mas isso hoje é feito pela Lego na sua linha “design by me”. Os benefícios corporativos para essa ousadia podem ser enormes e até abalar toda a estratégia de concepção de produtos tradicionalmente empregada.

Como vimos neste breve texto, num mundo profundamente transformado pela ciência e pela tecnologia, a cidadania, o mercado, o estilo de vida a que nos habituamos, bem como o sistema de valores e de crenças,  que devemos e podemos construir coletivamente, impõe uma análise crítica à nova matriz social e tecnológica da ciência. A ciência–cidadã e todas as demais manifestações da cidadania vieram para ficar.

Referências

Figura 1 - http://jairclopes.blogspot.com/2010/09/sobre-sociedade.html
Figura 2 - http://www.pram.mpf.gov.br
Figura 3 –http://www.zooniverse.org/home
Figura 4 – http://www.ibercivis.es/
Figura 5 – http://boinc.berkeley.edu/
Figura 6 - http://www.lego.com/en-us/Default.aspx

Estupro Corretivo na África do Sul


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Como julgamos relevante, reproduzimos texto divulgado pela ActionAid a respeito de estupros que ocorreriam, segundo o texto, sistematicamente contra as mulheres, na África do Sul.



Figura 1
O caso de Millicent Gaika, sul-africana que suportou cinco horas de estupro por ser lésbica, trouxe novamente à tona a situação de opressão da mulher na África do Sul, capital mundial do estupro.

O país, que garante em constituição a igualdade de todos os cidadãos, tem suas mulheres vivendo sob permanente estado de insegurança.

Por ano, são 500 mil casos de estupro registrados. Estima-se que quase metade da população feminina vá ser vítima de estupro em algum momento de sua vida. 


Leia o relatório completo com depoimentos das sobreviventes
Assine a petição da Avaaz pelo fim do estupro corretivo

Aceitação social da violência

Embora a impunidade para quem comete crimes contra a mulher na África do Sul seja regra, o problema se agrava quando esse crimes são motivados pelo preconceito.

Para a maioria das lésbicas sul-africanas, é preferível suportar o sofrimento a denunciar esse tipo de agressão: na África do Sul, o estupro “corretivo” tem quase plena aceitação social.

Uma pesquisa realizada por uma organização local revelou, por exemplo, que 20% dos homens acreditam que as vítimas de estupro gostaram da experiência. E mais: que elas fizeram por merecê-la.

Omissão do Estado

Além disso, as mulheres que têm coragem de denunciar esses crimes se deparam com um sistema judiciário falho, que acaba protegendo os agressores. Embora a constituição da África do Sul proíba a discriminação em função da opção sexual, o estupro “corretivo” não é julgado como crime motivado pelo preconceito.

Em 2009, quando a ActionAid publicou o relatório Crimes motivados pelo preconceito: O aumento de ocorrências de estupro “corretivo” na África do Sul, só um em cada cinco casos de estupro “corretivo” era julgado. Desses, pouco mais de 4% resultava em condenação.

Onda de violência crescente

Diante da recusa do governo sul-africano em priorizar a violência contra a mulher como questão de segurança pública, a onda de crimes motivados pelo preconceito só aumenta. Em 2009, organizações LGBT locais afirmavam tratar de cerca de 10 casos por semana.

Ainda mais alarmante é a transmissão do ódio à nova geração de homens sul-africanos. Cresce a ocorrência de estupros cometidos em escolas por garotos que acreditam poder “curar” suas colegas do lesbianismo.


Referência

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Unidades de Policiamento Pacificadoras: Nova lei sancionada no Estado do Rio de Janeiro




Figura 1
Para ciência e cobrança pela população do cumprimento dos dispositivos legais, o Projeto de Lei 2966/2010 da ALERJ - Estabelece Critérios Para Implementação das Unidades de Policiamento Pacificadoras, proposto em 17/03/2010 pelo deputado do PT ALESSANDRO MOLON, foi aprovada e transformada em Lei em 14/01/2011, sob o número 5890/2011 entrando em vigor em 17/01/2011. Leia a íntegra da Lei, no qual o Estado se obriga a implantar uma série de serviços públicos, sempre que houver a implantação de uma UPP em uma comunidade.

Íntegra da Lei no 5890/2011

"

O GOVERNADOR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO 

Faço saber que a Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro decreta e eu sanciono a seguinte Lei:

Art. 1º As Unidades de Policiamento Pacificadoras (UPP’s) são unidades vinculadas à Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro cujo objetivo principal é a retomada de territórios dominados pelo narcotráfico, milícias ou outras organizações criminosas, garantindo permanentemente a segurança e o respeito aos direitos humanos da população local, e permitindo que seja feita a ocupação social dos referidos espaços.

Art. 2º V E T A D O .

Art. 3º V E T A D O .

Art. 4º V E T A D O .

Art. 5º V E T A D O .

Art. 6º Sempre que ocorrer a ocupação de uma comunidade pelas UPP’s, o Poder Público deverá, no prazo máximo de 120 (cento e vinte dias), articular suas Secretarias, órgãos vinculados e concessionárias, bem como estabelecer parcerias com as Prefeituras, visando disponibilizar serviços públicos plenos à população local.

Parágrafo Único. Incluem-se dentre os serviços públicos mencionados no Art. 3º:

I – a instalação de creches e escolas do ensino fundamental e médio, de acordo com a demanda local;
II – a construção de áreas de lazer, quadras poliesportivas e equipamentos culturais, acompanhados de projetos esportivos e culturais;
III – a implantação de unidades da FAETEC e de programas de estudo dirigido no contraturno, de acordo com a demanda local;
IV – a viabilização do acesso gratuito e coletivo à internet sem fio, de rede da energia elétrica e de saneamento básico;
V – a garantia de acesso a programas de 1º emprego pelos jovens.

Art. 7º Esta Lei entrará em vigor na data de sua publicação.

Rio de Janeiro, em 14 de janeiro de 2011.

SÉRGIO CABRAL
GOVERNADOR
"




Figura 2
Para conhecimento, os artigos 2º, 3º, 4º e 5º da proposta original encaminhada à ALERJ pelo deputado Molon são transcritos abaixo:

Art. 2º. Para alcançar os objetivos previstos no Art. 1º serão observados os seguintes critérios por parte do Poder Público:
I – impossibilidade de redução do efetivo destinado a cada comunidade onde se instale uma UPP, que será calculado de acordo com a avaliação de risco do local;
II – impossibilidade de redução da estrutura física das UPP’s, que serão adequadas ao seu efetivo máximo previsto e dotadas de toda infra-estrutura necessária ao bom desempenho de suas atividades;
III – impossibilidade de suspensão das atividades das UPP’s por um período mínimo de 25 (vinte e cinco) anos após sua implementação, tornando as ocupações permanentes.
§ 1º. Somente em casos de comprovada necessidade será permitido o remanejamento temporário de até 20% (vinte por cento) do efetivo de uma UPP com finalidade única de auxiliar outras UPP’s que necessitem de reforço circunstancial.
§ 2º. A cada ciclo de 5 (cinco) anos de ocupação de uma UPP, serão realizados estudos de índices de violência, de homicídios e de criminalidade pelo Instituto de Segurança Pública – ISP, de maneira a se avaliar a necessidade de manutenção, de aumento ou de redução do efetivo destinado à referida UPP.
§ 3º. Os estudos mencionados no parágrafo anterior deverão ser apresentados pelas autoridades da Secretaria de Segurança Pública em audiências públicas a serem realizadas na Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro, de maneira a permitir a plena participação da sociedade civil, das universidades e, especialmente, das associações de moradores e demais organizações representativas das comunidades ocupadas pelas UPPs nos debates acerca da necessidade de manutenção, de aumento ou de redução do efetivo destinado às referidas UPPs.

Art. 3º. Para integrar as UPP’s o Poder público dará preferência aos policiais recém-egressos do curso de formação promovido pelo Centro de Formação e Aperfeiçoamento de Praças, sendo obrigatório para qualquer policial que venha a integrar tais Unidades, treinamento compatível com as normas da Organização das Nações Unidas para policiamento comunitário e uso da força;

Art. 4º. Com o objetivo de tornar a relação entre policiais e comunidade mais confiável e duradoura será evitada a rotatividade dos efetivos das UPP’s, respeitado o prazo previsto no inciso III do Artigo 2º;

Art. 5º. Em todas as instalações utilizadas pelas UPP’s serão disponibilizados, da maneira mais ostensiva possível, todos os contatos com a Ouvidoria de Polícia;

Referências:

Unidades de Policiamento Pacificadoras: Nova lei sancionada no Estado do Rio de Janeiro




Figura 1
Para ciência e cobrança pela população do cumprimento dos dispositivos legais, o Projeto de Lei 2966/2010 da ALERJ - Estabelece Critérios Para Implementação das Unidades de Policiamento Pacificadoras, proposto em 17/03/2010 pelo deputado do PT ALESSANDRO MOLON, foi aprovada e transformada em Lei em 14/01/2011, sob o número 5890/2011 entrando em vigor em 17/01/2011. Leia a íntegra da Lei, no qual o Estado se obriga a implantar uma série de serviços públicos, sempre que houver a implantação de uma UPP em uma comunidade.

Íntegra da Lei no 5890/2011

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O GOVERNADOR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO 

Faço saber que a Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro decreta e eu sanciono a seguinte Lei:

Art. 1º As Unidades de Policiamento Pacificadoras (UPP’s) são unidades vinculadas à Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro cujo objetivo principal é a retomada de territórios dominados pelo narcotráfico, milícias ou outras organizações criminosas, garantindo permanentemente a segurança e o respeito aos direitos humanos da população local, e permitindo que seja feita a ocupação social dos referidos espaços.

Art. 2º V E T A D O .

Art. 3º V E T A D O .

Art. 4º V E T A D O .

Art. 5º V E T A D O .

Art. 6º Sempre que ocorrer a ocupação de uma comunidade pelas UPP’s, o Poder Público deverá, no prazo máximo de 120 (cento e vinte dias), articular suas Secretarias, órgãos vinculados e concessionárias, bem como estabelecer parcerias com as Prefeituras, visando disponibilizar serviços públicos plenos à população local.

Parágrafo Único. Incluem-se dentre os serviços públicos mencionados no Art. 3º:

I – a instalação de creches e escolas do ensino fundamental e médio, de acordo com a demanda local;
II – a construção de áreas de lazer, quadras poliesportivas e equipamentos culturais, acompanhados de projetos esportivos e culturais;
III – a implantação de unidades da FAETEC e de programas de estudo dirigido no contraturno, de acordo com a demanda local;
IV – a viabilização do acesso gratuito e coletivo à internet sem fio, de rede da energia elétrica e de saneamento básico;
V – a garantia de acesso a programas de 1º emprego pelos jovens.

Art. 7º Esta Lei entrará em vigor na data de sua publicação.

Rio de Janeiro, em 14 de janeiro de 2011.

SÉRGIO CABRAL
GOVERNADOR
"




Figura 2
Para conhecimento, os artigos 2º, 3º, 4º e 5º da proposta original encaminhada à ALERJ pelo deputado Molon são transcritos abaixo:

Art. 2º. Para alcançar os objetivos previstos no Art. 1º serão observados os seguintes critérios por parte do Poder Público:
I – impossibilidade de redução do efetivo destinado a cada comunidade onde se instale uma UPP, que será calculado de acordo com a avaliação de risco do local;
II – impossibilidade de redução da estrutura física das UPP’s, que serão adequadas ao seu efetivo máximo previsto e dotadas de toda infra-estrutura necessária ao bom desempenho de suas atividades;
III – impossibilidade de suspensão das atividades das UPP’s por um período mínimo de 25 (vinte e cinco) anos após sua implementação, tornando as ocupações permanentes.
§ 1º. Somente em casos de comprovada necessidade será permitido o remanejamento temporário de até 20% (vinte por cento) do efetivo de uma UPP com finalidade única de auxiliar outras UPP’s que necessitem de reforço circunstancial.
§ 2º. A cada ciclo de 5 (cinco) anos de ocupação de uma UPP, serão realizados estudos de índices de violência, de homicídios e de criminalidade pelo Instituto de Segurança Pública – ISP, de maneira a se avaliar a necessidade de manutenção, de aumento ou de redução do efetivo destinado à referida UPP.
§ 3º. Os estudos mencionados no parágrafo anterior deverão ser apresentados pelas autoridades da Secretaria de Segurança Pública em audiências públicas a serem realizadas na Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro, de maneira a permitir a plena participação da sociedade civil, das universidades e, especialmente, das associações de moradores e demais organizações representativas das comunidades ocupadas pelas UPPs nos debates acerca da necessidade de manutenção, de aumento ou de redução do efetivo destinado às referidas UPPs.

Art. 3º. Para integrar as UPP’s o Poder público dará preferência aos policiais recém-egressos do curso de formação promovido pelo Centro de Formação e Aperfeiçoamento de Praças, sendo obrigatório para qualquer policial que venha a integrar tais Unidades, treinamento compatível com as normas da Organização das Nações Unidas para policiamento comunitário e uso da força;

Art. 4º. Com o objetivo de tornar a relação entre policiais e comunidade mais confiável e duradoura será evitada a rotatividade dos efetivos das UPP’s, respeitado o prazo previsto no inciso III do Artigo 2º;

Art. 5º. Em todas as instalações utilizadas pelas UPP’s serão disponibilizados, da maneira mais ostensiva possível, todos os contatos com a Ouvidoria de Polícia;

Referências:

Políticas de Prevenção x Antecipação de Catástrofes





Figura 1
Para entendermos um pouco do que está acontecendo com o clima e as suas manifestações, que, às vezes, levam à catástrofes como vimos neste mês na região serrana da Estado do Rio de Janeiro, o Blog Indignação e Cidadania formulou algumas perguntas sobre o tema, gentilmente respondidas pelo doutor Marcelo Barbio Rosa, do Centro de Prevenção do Tempo e Estudos Climáticos do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais ( INPE/CPTEC/MCT). Leiam as perguntas de nosso Blog e as respostas do Dr. Marcelo Barbio.


Perguntas e respostas:

Blog Indignação e Cidadania: Sob o olhar de um metereologista, o que o senhor acha que deveria ser feito para o País ter um plano eficiente de prevenção de catástrofes, como essa que se abateu sobre a região serrana?

Marcelo Barbio: Além do investimento em computadores de alto de desempenho, o que o governo já tem feito, é necessário que os modelos numéricos do tempo sejam sempre aperfeiçoados. Isto é feito aqui no CPTEC/INPE, porém sofremos com falta de pessoal qualificado (o Brasil deveria contratar, não com empregos temporários, mas sim permanentes, mais pesquisadores na área de modelagem ) e com a baixa qualidade dos dados que alimentam este modelo. Mesmo depois de 15 anos de existência do CPTEC, apesar de termos a nossa análise (que é o campo de dados em ponto de grade de onde o modelo inicia a sua previsão), ainda usamos a norte-americana disponibilizada online!.

Com intuito de acabar com este gargalo, ontem, o MCT lançou um projeto intitulado: Sistema Nacional de Alerta e Prevenção de Desastres Naturais. E que irá envolver a melhoria na qualidade dos dados, entre outros aspectos.

Voltando a modelagem numérica, sabemos que esta é um fundamental instrumento para previsões de até cinco dias. Todavia, havendo uma situação de risco, algumas estratégias podem ser montadas. A primeira delas é, assim que o sistema dinâmico estiver formado, iniciar um monitoramento intensivo com radar e, no caso de regiões a beira de rios, com medidores de vazão do rio. Com dados de radar, o centro regional que estivesse sob alerta, poderia rodar modelos de altíssima resolução (cerca de 1 km ou menos) para a área que vai ser afetada. Este modelo seria atmosférico e hidrológico e poderia fazer rodadas de algumas horas de previsão somente para confirmar se o sistema em questão irá se desenvolver ou não.

Blog Indignação e Cidadania : Se o sistema metereológico envolvendo o super computador Tupã do CPTECINPE estivesse plenamente operacional, ele, por si só, permitiria a totalidade das simulações envolvendo a antecipação dos climas nas várias regiões do País? Deveria haver sistemas similares "em rede" com o Tupã para aumentar o grau de confiabilidade nas previsões metereológicas no País?

Marcelo Barbio: Devemos deixar bem claro que o supercomputador, ou simplesmente super, dá mais velocidade às rodadas do modelo, mas não os melhoram. Os modelos que são rodados hoje no velho super, se fossem rodados no novo, teriam os mesmos resultados. O que pode, e foi feito, é melhorarmos a resolução espacial do modelo, permitindo uma melhor discretização quanto à distribuição de uma região sujeita a chuvas, por exemplo.

A previsibilidade climática (isto implica tendências do clima nos próximos três meses) é muito baixa nas regiões Centro-Oeste e Sudeste, isto não pelos modelos serem ruins, mais sim pelo fato de, nestas regiões, os sistemas sinóticos (i.e de tempo) terem alta variabilidade espacial e temporal. Desta forma, prevê-los como irão se comportar em três meses é uma tarefa que posso dizer hercúlea. Há anos que a previsão pode até ser facilitada, digamos, como é caso deste ano com La-Nina, onde, tradicionalmente, ocorrem anomalias positivas de chuva sobre os setores norte do Brasil e secas no Sul. Entretanto, a anomalia este ano ocorreu sobre o Sudeste. Mas estas questões deixaria com os climatologistas.

Como disse no início, a previsão climática não necessitaria de uma rede de computadores, já que com o poder atual do super, já poderíamos rodar modelos climáticos sobre todo o globo.




Figura 2
Blog Indignação e Cidadania : Se a resposta à pergunta 2 for sim, com que antecedência as simulações do Tupã permitiriam a previsão climática com um bom índice esperado de acerto?

Marcelo Barbio: Isto depende da melhoria dos modelos, em si e não somente do ganho em velocidade. Um modelo embute vários outros pequenos modelos que simulam, por exemplo, a cobertura de nuvens, trocas radiativas na atmosfera, interação oceano-atmosfera, efeitos da chamada camada limite planetária, evolução de um sistema de nuvens de chuva e etc.. Devemos lembrar que previsão climática não é previsão de tempo. A primeira tem o objetivo de mostrar se num período (normalmente de três meses), as chuvas numa dada área ficarão acima ou abaixo da média climatológica, se vai ser mais frio ou não em relação a esta mesma média. Previsões de tempo, como a que ocorreu na região de Serrana, só são possíveis com no máximo 7 dias. Porém, a emissão de um aviso à Defesa Civil, somente com 48 ou 72 horas.

Blog Indignação e Cidadania : Na sua visão, os vários fundos de fomento à pesquisa, como os da FINEP e CNPq, são suficientes para atender à demanda por financiamento? O que está faltando para aumentar o quantitativo de pesquisas na área? O número de pesquisadores metereologistas atual é suficiente para o atendimento adequado ao setor de pesquisa e prestação de serviços na área?

Marcelo Barbio: Quanto aos fundos de fomento, creio que os recursos disponibilizados sejam suficientes, mas não tenho informações que lhe possa detalhar como está a situação atualmente. Quanto aos meteorologistas o número é suficiente, o que falta é contratações. É muito comum um meteorologista terminar o doutorado e não ter emprego, ou viver de bolsa por alguns anos.

Blog Indignação e Cidadania : Muito tem sido dito na imprensa nos últimos tempos sobre mudanças climáticas e seus efeitos sobre o clima global. O senhor acha que nos próximos anos vão ser mais frequentes eventos como esse que se abateu sobre a região serrana? O Brasil deve ser um dos países que mais intensamente vai sofrer os efeitos da mudança climática?

Marcelo Barbio: Realmente não tenho condições de lhe dizer se as chuvas serão mais fortes ou não sobre o Brasil. Mas, até o momento, elas têm estado dentro dos padrões normais. O que tem havido é uma maior ocupação das áreas de risco, um aumento da concentração da população nas grandes cidades e, também, um maior conhecimento, por parte da população, dos fenômenos meteorológicos e climáticos. Hoje é comum falar sobre mudanças climáticas, El-Nino, La-Nina, etc. Algo impensável há 40 anos. Há meros 15 anos a mídia televisada se recusava a usar o termo frente fria, pois achava que o público não iria entender!! Hoje em dia fala-se, não só em frente fria, mas em ciclones extratropicais, cavados em altos níveis e etc.




Figura 3
Blog Indignação e Cidadania : Há uma boa relação que permita dizer que a intensidade e o número de chuvas torrenciais, e seus problemas adversos, tem tendência a aumentar à medida que o planeta se aquece?

Marcelo Barbio: Não, não necessariamente, depende da região do globo e como a atmosfera vai reagir. A melhor maneira é olhar o passado recente. No século 10, a Terra estava mais quente. Com estudos de fundo de lago, distribuição de pólens e etc podemos aferir como era o clima na época e tentar entender como será num futuro não muito distante.

Blog Indignação e Cidadania : Os fenônemos la niña e el niño serão os grandes vilões do clima no Brasil e no mundo nos próximos anos em função do aquecimento global? Quais as principais consequências desses fenômenos sobre o clima do Brasil no médio e longo prazos?

Marcelo Barbio: Não gosto de usar a palavra vilão, pois isto humaniza um fenônemo da natureza, o que não é o caso de nenhuma manifestação natural. Realmente não estou em condições de dizer quais serão as respostas atmosféricas quando a Terra estiver ligeiramente mais quente, quando estivermos sob um destes fenômenos oceânicos.

Caros amigos e amigas, como pudemos ler, as respostas às perguntas feitas ao doutor Marcelo Barbio Rosa pelo nosso Blog foram muito esclarecedoras. O Blog Indignação e Cidadania agradece ao Dr. Marcelo a gentileza.

Referências:



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