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quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Políticas de Prevenção x Antecipação de Catástrofes





Figura 1
Para entendermos um pouco do que está acontecendo com o clima e as suas manifestações, que, às vezes, levam à catástrofes como vimos neste mês na região serrana da Estado do Rio de Janeiro, o Blog Indignação e Cidadania formulou algumas perguntas sobre o tema, gentilmente respondidas pelo doutor Marcelo Barbio Rosa, do Centro de Prevenção do Tempo e Estudos Climáticos do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais ( INPE/CPTEC/MCT). Leiam as perguntas de nosso Blog e as respostas do Dr. Marcelo Barbio.


Perguntas e respostas:

Blog Indignação e Cidadania: Sob o olhar de um metereologista, o que o senhor acha que deveria ser feito para o País ter um plano eficiente de prevenção de catástrofes, como essa que se abateu sobre a região serrana?

Marcelo Barbio: Além do investimento em computadores de alto de desempenho, o que o governo já tem feito, é necessário que os modelos numéricos do tempo sejam sempre aperfeiçoados. Isto é feito aqui no CPTEC/INPE, porém sofremos com falta de pessoal qualificado (o Brasil deveria contratar, não com empregos temporários, mas sim permanentes, mais pesquisadores na área de modelagem ) e com a baixa qualidade dos dados que alimentam este modelo. Mesmo depois de 15 anos de existência do CPTEC, apesar de termos a nossa análise (que é o campo de dados em ponto de grade de onde o modelo inicia a sua previsão), ainda usamos a norte-americana disponibilizada online!.

Com intuito de acabar com este gargalo, ontem, o MCT lançou um projeto intitulado: Sistema Nacional de Alerta e Prevenção de Desastres Naturais. E que irá envolver a melhoria na qualidade dos dados, entre outros aspectos.

Voltando a modelagem numérica, sabemos que esta é um fundamental instrumento para previsões de até cinco dias. Todavia, havendo uma situação de risco, algumas estratégias podem ser montadas. A primeira delas é, assim que o sistema dinâmico estiver formado, iniciar um monitoramento intensivo com radar e, no caso de regiões a beira de rios, com medidores de vazão do rio. Com dados de radar, o centro regional que estivesse sob alerta, poderia rodar modelos de altíssima resolução (cerca de 1 km ou menos) para a área que vai ser afetada. Este modelo seria atmosférico e hidrológico e poderia fazer rodadas de algumas horas de previsão somente para confirmar se o sistema em questão irá se desenvolver ou não.

Blog Indignação e Cidadania : Se o sistema metereológico envolvendo o super computador Tupã do CPTECINPE estivesse plenamente operacional, ele, por si só, permitiria a totalidade das simulações envolvendo a antecipação dos climas nas várias regiões do País? Deveria haver sistemas similares "em rede" com o Tupã para aumentar o grau de confiabilidade nas previsões metereológicas no País?

Marcelo Barbio: Devemos deixar bem claro que o supercomputador, ou simplesmente super, dá mais velocidade às rodadas do modelo, mas não os melhoram. Os modelos que são rodados hoje no velho super, se fossem rodados no novo, teriam os mesmos resultados. O que pode, e foi feito, é melhorarmos a resolução espacial do modelo, permitindo uma melhor discretização quanto à distribuição de uma região sujeita a chuvas, por exemplo.

A previsibilidade climática (isto implica tendências do clima nos próximos três meses) é muito baixa nas regiões Centro-Oeste e Sudeste, isto não pelos modelos serem ruins, mais sim pelo fato de, nestas regiões, os sistemas sinóticos (i.e de tempo) terem alta variabilidade espacial e temporal. Desta forma, prevê-los como irão se comportar em três meses é uma tarefa que posso dizer hercúlea. Há anos que a previsão pode até ser facilitada, digamos, como é caso deste ano com La-Nina, onde, tradicionalmente, ocorrem anomalias positivas de chuva sobre os setores norte do Brasil e secas no Sul. Entretanto, a anomalia este ano ocorreu sobre o Sudeste. Mas estas questões deixaria com os climatologistas.

Como disse no início, a previsão climática não necessitaria de uma rede de computadores, já que com o poder atual do super, já poderíamos rodar modelos climáticos sobre todo o globo.




Figura 2
Blog Indignação e Cidadania : Se a resposta à pergunta 2 for sim, com que antecedência as simulações do Tupã permitiriam a previsão climática com um bom índice esperado de acerto?

Marcelo Barbio: Isto depende da melhoria dos modelos, em si e não somente do ganho em velocidade. Um modelo embute vários outros pequenos modelos que simulam, por exemplo, a cobertura de nuvens, trocas radiativas na atmosfera, interação oceano-atmosfera, efeitos da chamada camada limite planetária, evolução de um sistema de nuvens de chuva e etc.. Devemos lembrar que previsão climática não é previsão de tempo. A primeira tem o objetivo de mostrar se num período (normalmente de três meses), as chuvas numa dada área ficarão acima ou abaixo da média climatológica, se vai ser mais frio ou não em relação a esta mesma média. Previsões de tempo, como a que ocorreu na região de Serrana, só são possíveis com no máximo 7 dias. Porém, a emissão de um aviso à Defesa Civil, somente com 48 ou 72 horas.

Blog Indignação e Cidadania : Na sua visão, os vários fundos de fomento à pesquisa, como os da FINEP e CNPq, são suficientes para atender à demanda por financiamento? O que está faltando para aumentar o quantitativo de pesquisas na área? O número de pesquisadores metereologistas atual é suficiente para o atendimento adequado ao setor de pesquisa e prestação de serviços na área?

Marcelo Barbio: Quanto aos fundos de fomento, creio que os recursos disponibilizados sejam suficientes, mas não tenho informações que lhe possa detalhar como está a situação atualmente. Quanto aos meteorologistas o número é suficiente, o que falta é contratações. É muito comum um meteorologista terminar o doutorado e não ter emprego, ou viver de bolsa por alguns anos.

Blog Indignação e Cidadania : Muito tem sido dito na imprensa nos últimos tempos sobre mudanças climáticas e seus efeitos sobre o clima global. O senhor acha que nos próximos anos vão ser mais frequentes eventos como esse que se abateu sobre a região serrana? O Brasil deve ser um dos países que mais intensamente vai sofrer os efeitos da mudança climática?

Marcelo Barbio: Realmente não tenho condições de lhe dizer se as chuvas serão mais fortes ou não sobre o Brasil. Mas, até o momento, elas têm estado dentro dos padrões normais. O que tem havido é uma maior ocupação das áreas de risco, um aumento da concentração da população nas grandes cidades e, também, um maior conhecimento, por parte da população, dos fenômenos meteorológicos e climáticos. Hoje é comum falar sobre mudanças climáticas, El-Nino, La-Nina, etc. Algo impensável há 40 anos. Há meros 15 anos a mídia televisada se recusava a usar o termo frente fria, pois achava que o público não iria entender!! Hoje em dia fala-se, não só em frente fria, mas em ciclones extratropicais, cavados em altos níveis e etc.




Figura 3
Blog Indignação e Cidadania : Há uma boa relação que permita dizer que a intensidade e o número de chuvas torrenciais, e seus problemas adversos, tem tendência a aumentar à medida que o planeta se aquece?

Marcelo Barbio: Não, não necessariamente, depende da região do globo e como a atmosfera vai reagir. A melhor maneira é olhar o passado recente. No século 10, a Terra estava mais quente. Com estudos de fundo de lago, distribuição de pólens e etc podemos aferir como era o clima na época e tentar entender como será num futuro não muito distante.

Blog Indignação e Cidadania : Os fenônemos la niña e el niño serão os grandes vilões do clima no Brasil e no mundo nos próximos anos em função do aquecimento global? Quais as principais consequências desses fenômenos sobre o clima do Brasil no médio e longo prazos?

Marcelo Barbio: Não gosto de usar a palavra vilão, pois isto humaniza um fenônemo da natureza, o que não é o caso de nenhuma manifestação natural. Realmente não estou em condições de dizer quais serão as respostas atmosféricas quando a Terra estiver ligeiramente mais quente, quando estivermos sob um destes fenômenos oceânicos.

Caros amigos e amigas, como pudemos ler, as respostas às perguntas feitas ao doutor Marcelo Barbio Rosa pelo nosso Blog foram muito esclarecedoras. O Blog Indignação e Cidadania agradece ao Dr. Marcelo a gentileza.

Referências:



Um comentário:

  1. Olá!

    Para quem quiser saber mais sobre estupros corretivos na África do Sul: em 2009, a ActionAid entrevistou 15 sobreviventes e as organizações que trabalharam com elas. Seus depoimentos, junto com dados alarmantes sobre a violência contra a mulher na chamada "capital do estupro" podem ser conferidos no relatório disponível para download em nosso site:
    http://actionaid.org.br/Estuprocorretivona%C3%81fricadoSul/tabid/1337/Default.aspx

    Obrigada por divulgar!

    Marcelle Santos, ActionAid

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