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sexta-feira, 18 de março de 2011

Incidente Nuclear no Japão: Uma Análise Comparativa com as Usinas de Angra (Vejam um vídeo de Fukushima)


A produção de energia é um dos dilemas a serem enfrentados pela humanidade nas próximas décadas. As fontes de energia hídrica, como as que represam rios e são as principais fontes geradoras de energia elétrica no Brasil, embora sejam limpas, isto é, não poluam o ambiente pela queima de combustíveis fósseis, como o gás natural e o carvão, usados nas usinas terno elétricas  para gerar vapor e acionar as turbinas geradoras de energia elétrica - e que compõem grande parte da matriz energética de países como a China e os Estados Unidos -, vem apresentando cada vez maiores resistências quanto a instalação de novas hidroelétricas, pelo alto impacto ambiental provocado, uma vez que, geralmente, é necessário a formação de grandes lagos, que resultam em perda da biodiversidade e traz profundo impacto sobre as populações residentes na área. O complexo elétrico do Madeira é um desses projetos em xeque. Projetado para conter duas usinas de grande porte: a de Jirau (3.300 MW) e a de Santo Antônio (3.150 MW), sob o olhar da disponibilidade estratégica de energia para a manutenção do crescimento do País é mais do que justificável a sua construção. No entanto, os gestores do empreendimento encontram cada vez mais problemas associados às reinvidicações sobre a garantia da sustentabilidade ambiental do empreendimento, atrasos  no cronograma de liberação das licenças ambientais, ameaças judiciais exigindo maiores e melhores garantias sobre a mitigação dos impactos ambientais, tendo a frente dessas ações, ambientalistas e entidades civis organizadas e de defesa da população e, outros entraves.

Esse cenário de contestação, de exigência de garantias pelas partes envolvidas, especialmente quando se fala da população, é extremamente salutar. É o exercício pleno da cidadania, do amadurecimento da democracia e da conscientização cada vez maior que a Sociedade sente não ser somente mero espectador, mas protagonista dos fatos que lhe causam impacto.

Embora tenha esse lado positivo, é evidente que sob o aspecto técnico-financeiro, esses embates de cunho ambiental, com todos os méritos que carregam, se constituem em fator de aumento de custos, atrasos de cronograma e incertezas sobre a construção desses empreendimentos. As questões podem ser tão complexas, que mesmo sendo estratégicos para o país, investimentos como esses podem não sair do papel pela pressão da Sociedade organizada.

Esse cenário que citamos, mostra que, mesmo energias limpas como as hidroelétricas, encontram cada vez mais resistências quando se fala da construção de novas plantas geradoras. É inevitável, mesmo que minimizado, impactar o meio ambiente, mesmo com todas as promessas e projetos de remediação que sejam apresentados como compensatórios.

A questão ambiental, o dilema em que vivemos do aquecimento desenfreado do planeta graças, em grande parte, a uma matriz energética mundial essencialmente suja, emissora dos perigosos gases do efeito estufa, trouxe de volta, nos últimos tempos, uma antiga alternativa ao cenário energético mundial: A geração energética via fonte nuclear. Ela é limpa, tem tecnologia madura e dominada, ao contrário de novas alternativas, ainda incipientes, como a geração eólica e a energia solar e não causa grandes impactantes ambientes em sua instalação e, até hoje, tinha uma reputaçao de relativo sucesso. Para falar em números, a porcentagem da energia nuclear na geração de energia mundial é de 6,5% (1998,UNDP) e de 16% na geração de energia elétrica. No mês de janeiro 2009 estavam em funcionamento 210 usinas nucleares em 31 países, com ao todo 438 reatores produzindo a potência elétrica total de 372 GW.

Historicamente, a energia nuclear experimentou nos anos 1970 - 1990, um grande crescimento, especialmente nos Estados Unidos, Europa, países da antiga União Soviética e Japão. Aos poucos, no entanto, ela perdeu prestígio e investimentos, especialmente em função das pesadas críticas quanto à segurança intrínseca das usinas e da questão da disposição permanente dos resíduos e rejeitos nucleares, de baixa e alta atividade, gerados durante a vida útil das usinas. Esse viés crítico foi intensamente reforçado com os incidentes de Three Mile Island nos EUA e Chernobil na Ucrânia, e um movimento ambientalista e anti-radiação ganhou força no mundo.

Quando o mundo se preparava e as resistências a um novo impulso da construção de plantas nucleares começava a ganhar força, surge o incidente da Central Nuclear de Fukushima, com seus seis reatores. O incidente que ocorreu - e vem ocorrendo - na usina é um dos mais sérios do mundo, e numa escala de 0 a 7, primeiramente foi classificado na escala 4 e agora está na escala 5, colocando em xeque a segurança de todas das centrais nucleares ao redor do mundo. Vários governos, inclusive o do Brasil, já se manifestaram no sentido de rever seuss procedimentos de segurança e outros, como a Alemanha, já anunciaram até a retirada de operação de usinas mais antigas. Esse incidente de Fukushima foi um baque que a indústria nuclear não esperava, especialmente neste momento favorável à diminuição das resistências quanto ao emprego da energia nuclear, como alternativa segura e limpa ao fornecimento de energia ao mundo.

Quanto à aspectos técnicos, há vários tipos de configurações de plantas nucleares. A tecnologia de reator empregada em Fukushima é a BWR (reator a água fervente). Esse é um tipo de reator que usa a água leve (água comum) como refrigerante e moderador, que ao passar diretamente pelo núcleo do reator, contendo o combustível nuclear dentro das varetas dos elementos combustíveis, ferve e forma vapor para impulsionar diretamente a turbina e gerar eletricidade. A presença constante, ininterrupta, de água passando e retirando do núcleo do reator o excesso de calor gerado pelo processo de fissão nuclear, quando o reator está em operação, é o que garante a geração contínua de energia e mantém a segurança da usina. Se esse fluxo de água diminui a um nível crítico ou cessa de forma inesperada, o reator super aquece, os elementos combustíveis são expostos, a ocorrência das reações de fissão do urânio continuam a acontecer e, mesmo que as taxas de fissão se tornem mais baixas, pode ocorrer uma fusão do clad do combustível, o que parece estar ocorrendo, pelo menos parcialmente, em Fukushima.

Em Fukushima se especula que as linhas de fornecimento de água para a manutenção do funcionamento seguro dos reatores da Central Nuclear, tenham entrado total ou parcialmente em colapso, na medida em que, em virtude da interrupção do sistema normal de fornecimento de energia elétrica, danificado pela ocorrência do mega terremoto 9.0 Richter, talvez por um problema de localização no projeto da usina, os geradores diesel de segurança, encarregados de entrar em funcionamento e manter seguro o fluxo de abastecimento de água do reator enquanto a usina estaria sendo desligada emergencialmente, segundo os procedimentos de desligamento, não teriam funcionado, por terem sido inundados pelas mega ondas do tsunami, causando o incidente nuclear que estamos acompanhando hoje.

Comparando com o Brasil, aos leitores primeiramente gostaria de dizer que a nossa matriz energética é praticamente limpa, com o sistema de termo elétricas existentes somente entrando on line ao sistema integrado de distribuição, quando ocorrem situações de flutuação e/ou desequilíbrio do despacho de carga ou quando o volume dos rios e revervatórios de água atingem níveis que não garantem a segurança ao sistema elétrico do País, de forma a atender a demanda elétrica diária projetada.

Quanto às nossas controversas centrais elétricas de Angra, assunto de muita mística e desinformação, elas são de uma arquitetura totalmente diferente das de Fukushima e de Chernobil. Nossas duas centrais em operação no sistema, Angra I (projeto Westinghouse) e Angra 2 (projeto KWU/RBU), são do tipo PWR(reator a água pressurizada) e muito seguras.

Nas usinas de Angra há dois tipos de circuitos. O primeiro deles o circuito primário, fechado, aonde está o reator nuclear em si e seu combustível (elementos combustíveis a base de urânio levemente enriquecido). Esse circuito primário está todo contido dentro do edifício de contenção, que é uma robusta construção de concreto reforçado com um liner de aço interno. O sistema de refrigeração e moderação do primário é constituído de meio aquoso comum (água leve) fortemente pressurizado que, então, é aquecido á medida que a reação de fissão do combustível nuclear acontece e nesse processo libera calor. O sistema primário está interligado, mas de forma separada, a um sistema secundário (ainda dentro do edifício de contenção), que contém o trocador de calor, alimentado por água não pressurizada. Assim, no trocador de calor, ocorre a liberação do calor contido na água pressurizada (quente), que é liberado para a água não pressurizada (fria), aquecendo-a a um ponto em que se forma vapor, e que vai, finalmente, alimentar as turbinas elétricas a vapor, gerando energia. Isso acontece em um prédio auxiliar fora do edifício do reator.

O sistema PWR que o Brasil adotou para as suas usinas é o mais seguro e considerado padrão no mundo e alimenta, por exemplo, os reatores nucleares de navios e submarinos. Comparando com Fukushima, um hipotético incidente com perda do refrigerante primário de um reator típico PWR, faria com que a pressão da água caísse e, imediatamente, a taxa de fissão nuclear diminuísse, diminuindo a temperatura da água e evitando a evolução para um incidente. Além do mais, se a central nuclear é bem projetada, há geradores diesel (principal e de reserva) que, no caso de perda de energia, como aconteceu em Fukushima, entram em funcionamento garantindo a manutenção do fornecimento de água ao sistema, enquanto ocorre o processo controlado de desligamento do reator, com a descida das barras de controle e a adição de boro ao sistema de refrigeração (um veneno para a continuidade da reação nuclear). Além dessas medidas, na arquitetura PWR, a reação nuclear não se mantém às mesmas taxas quando há perda de pressão da água do primário, pois a água pressurizada é condição maior para a “moderação” dos nêutrons e fissão dos núcleos de urânio desse tipo de reator. Portanto, um evento como o de Fukushima não ocorreria nesse reator PWR hipotético ou nos reatores de nossas centrais nucleares.

Podemos então dizer que as centrais de Angra são totalmente seguras? Eu acho que elas são muito seguras. Nossos mecanismos de regulação e garantia da segurança nuclear são muito severos, No entanto, creio que incidentes e acidentes sempre podem acontecer. È trabalhar para que isso não aconteça... 

O vídeo mostrado a seguir ilustra o que está acontecendo em Fukushima. Vejam o vídeo e fiquem a par do que está acontecendo por lá.




(revisado em 18/03/2011 às 16:30h)


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